Para que esta avaliação seja eficaz, o terapeuta especialista em ABA, precisará avaliar essa pessoa nos mais variados ambientes, sendo o mais neutro possível, caso contrário, sua presença poderá interferir no comportamento “natural” do paciente, alterando os resultados da análise comportamental.
Essas observações em diferentes ambientes, potencializam a descoberta das funções de cada comportamento, deixando explícita a topografia (exemplo: criança chorando, se atirando ao chão, fazendo birras, gritando…). A topografia não explica o “por quê” o indivíduo com TEA está tendo aquele comportamento considerado socialmente inadequado, ela apenas descreve o tipo de comportamento, logo que uma criança pode chorar por dor, alegria, tristeza etc). A isto na ABA dá-se o nome de função comportamental. Para descobrir a função de um comportamento é preciso olhar para o que aconteceu antes (antecedentes) e observar para o que aconteceu depois (consequência).
ANTECEDENTES:
No grupo dos antecedentes estão todos os estímulos presentes na ocasião em que ocorre o comportamento. A partir desse contexto (história), o estímulo passa a sinalizar que a resposta será reforçada se ocorrer novamente e, consequentemente, a presença desse estímulo passa a evocar a resposta. Por exemplo, se uma criança chora ou faz birras quando sente fome ou quer alguma coisa e a mãe ou qualquer outra pessoa que cuida dessa criança atendem este choro dando-lhe o que comer, com o tempo a mãe ou esta outra pessoa passam a ser um estímulo discriminativo que evoca a resposta de chorar.
CONSEQUÊNCIAS:
As variáveis consequentes são todos os estímulos que ocorrem após o comportamento. Estas consequências podem ser de dois tipos:
a) estímulos reforçadores – que selecionam comportamentos, ou seja, fortalecem-no e aumentam sua probabilidade de ocorrência;
b) estímulos punidores – que tornam o responder menos provável.
Importante ressaltar que não existe redução de um comportamento inadequado sem o ensino de uma outra habilidade considerada adequada para substituí-lo. Existem duas formas de ensinar essas habilidades. A primeira é por modulação (apresenta-se um novo modelo comportamental para o indivíduo com TEA). A segunda é a modelagem (aproximação sucessiva de resposta), ajudando a criança a partir do estabelecimento do vínculo e do contato físico com ela. Exemplo: pegar na mão da criança e apontar para o que ela quer, porém, gradativamente, passo a reduzir essa ajuda para que essa criança vá aprendendo a fazer sozinha e, assim, vá ganhando autonomia e aprenda uma nova habilidade que irá substituir o comportamento inadequado que se pretende reduzir ou extinguir.
A avaliação funcional torna-se ainda mais importante quando pensamos no desenvolvimento de habilidades sociais na vida de indivíduos no TEA. Mas, o que vem a ser habilidades sociais?
As habilidades sociais são um conjunto, um repertório comportamental de acordo com a nossa cultura e sociedade para poder estabelecer relações interpessoais. Mesmo dentro de um mesmo país, temos culturas e contextos diferentes e isso precisa ser levado em consideração. Dançar, por exemplo, é uma habilidade social, mas isso é adequado em um espetáculo de balé, numa academia de dança, agora dançar em uma loja de cristais já não está dentro do contexto e, isso precisa ser ensinado ao indivíduo com TEA.
A falta de habilidades sociais é um impedimento para que indivíduos no TEA estabeleçam relações e consigam conviver em contextos diferentes, como a escola, com os amigos e até familiares mais distantes e, principalmente, ambientes que exigem maior nível de interação, como em uma festa de aniversário ou casamento, por exemplo. Essa dificuldade é, por si só, um fator que muitas vezes impossibilita esses indivíduos de estabelecerem relacionamentos – sejam eles em formato de amizade ou mesmo amorosos –, ainda que muitas vezes queiram fazê-lo.
Diante dessas situações, a falta de habilidades sociais tende a atrapalhar no processo de interação e de pertencimento de grupos sociais diversos e faz com que ele seja ainda mais complicada do que normalmente seria para pessoas neurotípicas. Porém, mesmo que pareça muito difícil fazer com que um indivíduo no TEA consiga ter qualidade de vida social e emocional, é possível treinar essas habilidades, que não servem somente quando falamos em namoro ou casamento, mas, também, em diversos aspectos da vida cotidiana, como ir ao shopping center e não sair gritando e correndo pelos corredores, por exemplo.
É importante sabermos como lidar com situações complexas para um indivíduo com TEA, mas que para os neurotípicos são normais, porém, para pessoas atípicas esses comportamentos “inadequados” precisarão ser ensinados e substituídos. A primeira aprendizagem é saber que não existe certo e errado, até porquê, quando falamos em comportamentos adequados ou inadequados, estamos falando em subjetividades, pois nem tudo o que parece ser correto para uma pessoa, pode não ser para a outra, e vice-versa. O importante, então, será avaliar o contexto social para realizar esse treino de forma correta.
Não é necessário ser um psicopedagogo ou um psicólogo, ambos da área comportamental para aplicar essas técnicas, a própria família é um importante agente no ensino de habilidades sociais e emocionais, na busca da qualidade de vida daqueles que amam, logo que as famílias ensinam habilidades sociais o tempo todo, conforme suas culturas étnicas e morais sociais. Quando elas dizem 'não senta assim', 'quais são as palavrinhas mágicas?' não fala assim', 'vai tomar banho'. Tudo isso são habilidades sociais. Mesmo que a pessoa faça terapias multidisciplinares, 90% do ensino de habilidades sociais parte da família, senão nós não teremos os resultados esperados na terapia ABA. Por esses motivos é preciso que a família se conscientize que possue um papel de suma importância no tratamento de seu ente querido, logo que são eles quem passam a maior parte do tempo com essas pessoas.
O primeiro passo para o especialista em ABA é entender quais habilidades sociais o seu paciente já possui, por exemplo, se ele já sabe iniciar uma conversa, mesmo que seja numa linguagem alternativa ou sabe brincar de maneira adequada, isso pode – e deve – ser usado durante o ensino de outras habilidades sociais.
Depois de entender o que ele já sabe, é hora de definir metas e objetivos, no intuito de substituir comportamentos julgados inadequados por uma sociedade, por outros considerados adequados para cada ambiente que esse indivíduo com TEA precisará ou irá querer frequentar. Ou seja, você já sabe em que momento aquele indivíduo está, agora é hora de entender onde quer chegar e porquê. Por isso, se estamos falando de pessoas com o espectro autistas num grau mais leve, que conseguem verbalizar as palavras, é interessante incluí-los no processo para que eles mesmos possam dizer quais são seus desejos, contudo, se a linguagem verbal está prejudicada, a saída será a comunicação alternativa e, para isto, existem vários métodos que poderão ser aplicados, além de tratamentos inovadores e comprovados por estudos e experimentos científicos, a sua eficácia como a NEUROMODULAÇÃO NÃO INVASIVA, por exemplo.
As habilidades sociais, por serem um repertório comportamental individual, cujo objetivo é estabelecer e desenvolver relacionamentos interpessoais de maneira satisfatória, aumentando a probabilidade de reforçamento natural (Caballo, 2003), quanto mais socialmente habilidoso o indivíduo com TEA for, mais fácil será para ele enfrentar as situações sociais do dia a dia que envolvem outras pessoas, como, por exemplo, saber como se comportar em ambientes onde o volume e a circulação de outras pessoas sejam maiores do que o ambiente de casa, onde existam regras próprias estabelecidas, que já é conhecido por ele.
O contrário disso, ou seja, a não inclusão desses indivíduos em outros ambientes sociais, a tendência será tornar mais difícil a inclusão social, o que tende a gerar comportamentos de fuga/esquiva num círculo vicioso em dois aspectos, como componentes verbais e componentes não verbais.
COMPONENTES VERBAIS:
Recusar/fazer um pedido/convite;
Fazer/responder perguntas;
Elogiar/receber elogios;
Pedir/aceitar desculpas;
Pedir/oferecer ajuda;
Expressar medo, insatisfação, incômodo, confusão, falta de conhecimento, falha;
Expressar interesse romântico;
Fornecer/solicitar/aceitar críticas construtivas;
Iniciar/continuar/encerrar conversa;
Insistir, resistir, cobrar, discordar, discutir, solicitar mudança de comportamento;
Narrar/ouvir eventos.
COMPONENTES NÃO VERBAIS:
Contato visual;
Tempo de resposta, duração da resposta;
Postura e inclinação do corpo; Gesticulação;
Resposta alternativa de ouvinte;
Aparência/estilo.
EXEMPLOS DE PRÉ-REQUISITOS EM HABILIDADES SOCIAIS IMPORTANTES NO TEA
Habilidades básicas: saber perder, dividir, fazer turnos, esperar, fazer o que não gosta, lidar com frustração
Independência: autocuidado, passear sozinho ou acompanhado, estudar, chamar um táxi, procurar emprego, trabalhar;
Resolução de problemas: o que fazer em caso de: cortes (ferimentos), incêndio, acidentes (dos mais diversos), queimaduras, assalto;
Repertório socialmente relevantes: assistir a séries, filmes, jogos, ouvir músicas, saber se posicionar políticamente, economia (educação financeira);
Emoções/empatia: identificar em si e no outro sentimentos diversos, como: alegria, tristeza, amor, afeto, carinho), saber expressar-se verbalmente ou através de linguagens alternativas, reagir às emoções e sentimentos (medo, raiva…).
As principais funções de um comportamento considerado inadequado socialmente, são:
Função Tangível: função para ganhar algo;
Função de Esquiva: função para fugir de alguma coisa ou atividade proposta;
Função Sensorial: efeito que o comportamento causa no organismo;
Função de Atenção: função para chamar a tenção sobre si ou sobre algum acontecimento momentâneo;
Função de Controle: função para tentar controlar a situação, fazendo com que tudo seja do “jeito” que ela quer.
Por isso, é de suma importância conhecer e saber agir em cada função comportamental que o indivíduo com TEA apresentar, pois isso evitará o rótulo, além de ensinar esse indivíduo apresentando a ele novas habilidades que substituirão aquele comportamento inadequado.